Os antecedentes históricos que motivaram a imigração árabe ao Brasil e ao Paraná foram a perseguição pelo Império Turco Otomano, a escassez de terra, a visita de D. Pedro II ao Oriente Médio no final do Séc. XIX (Egito em 1871 e Líbano em 1876) e as duas grandes guerras mundiais.
Os primeiros imigrantes, cristãos e muçulmanos, chegaram ao Brasil no final do século XIX, vindos, majoritariamente, da Síria e do Líbano. Existem relatos de que o primeiro imigrante árabe chegou ao Paraná em 1878. A maioria chegava via Porto de Santos e, depois, se dispersava para as várias regiões do Brasil, do Sul ao Norte. Vinham repletos de sonhos que queriam concretizar no novo horizonte da “América”, como o Brasil era chamado por eles. Um desses sonhos era a possibilidade de trabalhar e progredir no comércio. Normalmente, vinham sozinhos para depois trazerem suas famílias – esposa e filhos –. No começo da imigração era muito comum encontrar imigrantes nesta situação (sem família).
Num primeiro momento, a opção mais corriqueira de trabalho escolhida era o comércio informal, porque parte significativa dos imigrantes não trazia capital para fazer investimentos. A mascateação (ofício do mascate) foi o empreendimento mais comum. Os mascates espalharam-se por todo o Paraná, chegando às mais longínquas cidades do interior. Não é exagero afirmar que desbravaram o interior. As pessoas os aguardavam ansiosas porque, além das mercadorias, levavam notícias das cidades grandes. Carregavam nas mãos ou nos ombros, ou ainda em lombo de burros, malas com tecidos, roupas, armarinhos e muitas “bugigangas”. Os árabes consolidaram o ofício de mascate como profissão e como um tipo de comércio. Mesmo com um português precário, eles se faziam entender e se integraram rapidamente ao ambiente dos brasileiros.
Quando juntavam o “dinheiro da passagem”, mandavam buscar a família e isto se constituía numa segunda etapa da imigração, ou seja: o estabelecimento de um lar.
Numa etapa posterior e concomitante à mascateação, alguns imigrantes trabalhavam em pontos “fixos-móveis”, isto é: durante o dia colocavam um “carrinho” com mercadorias em determinado lugar e à noite levavam este carrinho para guardar em outro lugar. Os bem-sucedidos evoluíram para comerciantes em lojas. Introduziram as práticas da alta rotatividade e alta quantidade de mercadorias vendidas, criaram as figuras das promoções e das liquidações.
A orientação religiosa e a região de origem foram as bases da estruturação da vida social da colônia sírio-libanesa no Paraná. Para não perderem sua cultura e seu credo, formaram associações religiosas, culturais e beneficentes como, por exemplo, a Igreja Ortodoxa Síria, o Clube Sírio-Libanês, a Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná e a Mesquita de Curitiba, entre outras. Nestas instituições, reproduziam o modo de vida de suas terras, superavam a solidão e a saudade “da terra”; ajudavam uns aos outros, especialmente com acolhida familiar.
Contempladas do ponto de vista sócio-cultural, tais iniciativas alimentaram o sentimento nativista da colônia, mantendo o vínculo dos imigrantes aos costumes da sua terra natal, pois o povo árabe não quer perder sua identidade. Do ponto de vista psicológico, o vínculo com seus patrícios fortalecia a identidade cultural das pessoas; o “eu” da pessoa.
Ademais, há um fato importante a ser considerado: os árabes empenharam-se demasiadamente em oferecer estudo a seus filhos, particularmente para ter um filho médico. É tradição árabe ter um filho médico! Entretanto, não foi só na área da Medicina que os árabes contribuíram formando muitos profissionais para o Brasil. Quase 130 anos após a primeira leva de imigrantes, não é difícil constatar a inserção de árabes em todas as áreas do conhecimento.
A característica hospitaleira do árabe e a excelente receptividade do povo brasileiro facilitou muito o relacionamento com o povo local. Essa integração pode ser notada, inclusive, na apreciação da comida árabe pelos brasileiros.
Até a década passada, a Praça Tiradentes, em Curitiba, e seus arredores concentrava grande número de comerciantes árabes. Pode-se incluir, também, os bairros do Portão e o Novo Mundo que concentravam muitos comerciantes sírios.
A substituição da importação pela industrialização no século XX, foi um feito importante dos imigrantes árabes e marcou seu ingresso no setor industrial, o que ocorreu, principalmente, nas duas primeiras décadas do século XX, quando deslanchou o processo de substituição das importações pela industrialização. Um caso emblemático é o da família Jafet, em São Paulo.